Quanto vale uma oração

A  HISTÓRIA  DA  BALANÇA

por Koji Sakamoto

Uma senhora muito simples e pobre, com visível ar de derrota no rosto, entrou num armazém, aproximou-se do dono – conhecido por seus modos grosseiros – e pediu-lhe fiado para alguns mantimentos. Ela explicou que, por estar muito doente, o marido não podia trabalhar e que tinha sete filhos para alimentar. O dono do armazém zombou dela a pediu que se retirasse. Mas ela, pensando na necessidade de sua família, implorou:

Por favor, senhor, eu lhe darei o dinheiro assim que puder.

Ele, contudo, não lhe dava crédito. Um freguês que, à beira do balcão, assistia à conversa entre os dois aproximou-se do dono do armazém dizendo-lhe que desse à mulher tudo o que ela precisava, por sua conta. 

Então, o comerciante, meio relutante, falou para a pobre mulher:

Você tem uma lista de mantimentos?”.

Sim” ela respondeu.

Muito bem, coloque sua lista na balança, e o quanto ela pesar eu lhe darei em mantimentos.

A pobre mulher hesitou por uns instantes, mas, com a cabeça curvada, retirou da bolsa um pedaço de papel, escreveu nele alguma coisa e depositou-o suavemente na balança. Os três ficaram estupefatos quando o prato da balança com o pedaço de papel desceu e permaneceu no nível mais baixo. Completamente pasmo com o marcador de peso, o comerciante virou-se para o freguês e comentou contrariado: “Eu não posso acreditar.”

O freguês sorriu, e o comerciante começou a depositar os mantimentos no outro prato da balança. Como a escala da balança não se equilibrava, ele continuou colocando mais e mais mantimentos, até não caber mais nada. O comerciante ficou parado por uns instantes, tentando entender tudo aquilo. Finalmente, pegou o pedaço de papel na balança e ficou espantado, pois não era uma lista de compras, mas apenas uma oração que dizia: 

Meu Senhor, o Senhor conhece as minhas necessidades, e eu estou deixando isso em Suas mãos.”

O comerciante entregou as mercadorias à mulher no mais completo silêncio. Ela agradeceu e deixou o armazém. O freguês, ao pagar a conta, finalizou:

Valeu cada centavo. Só Deus sabe o quanto pesa uma oração“.

(Autor Desconhecido)

REFERÊNCIA:

SAKAMOTO, Koji. A história da balança. In: ______. Seja lá o que Deus quiser. 2. ed. São Paulo: Açãoset, 2014. p 50-51.

COMENTÁRIO de Kathy Marcondes:

Essa história simples de fé traz uma mensagem também simples e muito claramente aí colocada: ninguém conhece a realidade espiritual de nenhuma outra pessoa. Não sabemos mesmo o que leva essa mulher a ter a coragem de pedir algo sem ter como pagar por isso. Não sabemos porque o comerciante simplesmente não aceita entregar o que o outro cliente disse que pagaria. Não sabemos, antes do fim da história, como aquela mulher lidaria com o fato de ter de escrever (ou seja testemunhar, deixar gravado, claro) suas necessidades. Não sabemos quando Deus atende ou não atende uma oração. Não sabemos como e se Deus recompensa quem paga contas de senhoras em apuros com necessidades materiais prementes para suprir a doentes e crianças. Não sabemos quase nada!!! E assim é!! E assim não-sabendo passamos, então, a não mais julgar, seja lá quem for. E deixar que “os dias se cumpram” como diria Jorge Luis Borges, fazendo nossa parte no mundo, da melhor forma que pudermos, julgando-nos e aos outros o mínimo possível – como fazem todos os muito ocupados no serviço, na alegria ou em ambos ao mesmo tempo (e simultaneamente!).