O Arqueiro Desinteressado – poesia sobre o arco, a flecha, o alvo e o arqueiro

O ARQUEIRO DESINTERESSADO

por Merton Thomas

Quando um arqueiro atira sem alvo nem mira

Está com toda sua habilidade.

Se atira para ganhar uma fivela de metal

Já fica nervoso.

Se atira por prêmio em ouro

Fica cego

Ou vê dois alvos – 

Está louco!

Sua habilidade não mudou. Mas o prêmio

Cria nele divisões. Preocupa-se.

Pensa mais em ganhar

Do que em atirar –

E a necessidade de vencer

Esgota-lhe a força.

REFERÊNCIA:

MERTON, Thomas. A via de Chuang Tzu. Petrópolis: Vozes, 1969.  p. 139.

COMENTÁRIO de Kathy Marcondes:

Há uma grande sabedoria em observar e diferenciar duas diferentes intenção do nosso ego, ou seja, de nossa vontade… de nosso centro ordenardor de nossos pensamentos e decisões. A primeira intenção de conhecer e controla esgota as forças cooperativas que existem e são a própria Natureza. Esta intenção quer dominar mais que resolver problemas, beneficiar-se sem se importar com o entendimento. A segunda intenção associa-se as coisas que estão à sua volta, favoráveis ou não ao seu conforto e bem-estar, porque compreende a si mesmo flluindo do desconhecimento para o conhecimento, da ignorância para a compreensão. Por isso as intenções do segundo tipo fluem com calma, eficiência, alegria e leveza. Há harmonia. Não há pesar. Há experiência de ser.  O Arqueiro Desinteressado encontra-se um com seu fluxo, seu arco, sua intenção, sua flecha, seu alvo… e vitória e derrota são sempre passíveis de serem aceitas e incorporadas pacificamente, sem transtorno, sem perturbação do fluxo da vida.