Resposta a Neale – sobre fé na ausência do medo e da raiva

por Neale Donald Wash 

[extrato de um diálogo entre o autor e Deus. Incialmente fala Deus:]

Se você tirar a maior felicidade de sua vida das experiências que só podem ser obtidas no Mundo Exterior — o mundo físico fora de você — nunca quererá renunciar a nada do que acumulou, como uma pessoa e uma nação, para ser feliz. 

E enquanto aqueles que “não têm” acharem que a sua infelicidade está ligada à falta de bens materiais, também ficarão presos na armadilha. Sempre desejarão o que você tem e você sempre se recusará a partilhá-lo. 

É por isso que Eu disse antes que há um modo de acabar realmente com a guerra — e toda a experiência de inquietação e falta de paz. Mas é uma solução espiritual

Em última análise, todo problema geopolítico, como todo problema pessoal, tem origem em um problema espiritual. 

Toda a vida é espiritual, e, portanto, todos os problemas da vida têm uma origem espiritual — e são resolvidos espiritualmente. 

A causa das guerras em seu planeta é que alguém tem algo que alguém cobiça. Isso é o que leva alguém a fazer algo que alguém não quer que faça. 

Todos os conflitos surgem do desejo inadequado. 

A única paz no mundo que é duradoura é a Paz Interior.

Deixe cada pessoa encontrar a paz interior. Quando você a encentrar, descobrirá que é indispensável. 

Isso significa que você simplesmente não precisa mais das coisas de seu mundo exterior. “Não precisar” é uma grande libertação. Em primeiro lugar, isso o livra do medo de haver algo que você não terá; que você tem e perderá; e de que sem uma determinada coisa não será feliz. 

Em segundo, “não precisar” o livra da raiva

A raiva é o medo manifestado. Quando você não tem nada a temer, não tem do que sentir raiva

Você não sente raiva quando não consegue o que quer, porque seu ato de querer foi simplesmente uma preferência, não uma necessidade. Por isso não tem medo associado à possibilidade de não obtê-lo. E consequentemente, não tem raiva.

Você não sente raiva quando vê outras pessoas fazendo o que não quer que façam, porque não precisa de que elas façam ou não uma determinada coisa. Consequentemente, não tem raiva. 

Você não sente raiva quando alguém é grosseiro, porque não precisa de que essa pessoa seja gentil.

Não sente raiva quando alguém não o ama, porque não precisa de que essa pessoa o ame.

Não sente raiva quando alguém é cruel ou tenta prejudicá-lo, porque não precisa de que essa pessoa se comporte de outro modo, e sabe que não pode ser prejudicado. 

Você nem mesmo sente raiva se alguém tentar tirar a sua vida, porque não teme a morte. 

Quando o medo é tirado de você, tudo o mais pode ser tirado e não sentirá raiva.

Você sabe em seu íntimo, intuitivamente, que tudo que criou pode ser recriado, ou — mais importante ainda — que isso não importa. 

Quando você encontra a Paz Interior, nem a presença nem a ausência de uma pessoa, de um lugar ou de uma coisa, nem uma condição, uma circunstância ou uma situação pode ser o Criador de seu estado mental ou a causa de sua experiência de ser. 

Isso não significa que você rejeita todas as coisas do corpo. Longe disso. Significa que você experimenta estar plenamente em seu corpo e os prazeres disso, como nunca experimentou antes. 

Contudo, seu envolvimento com as coisas do corpo será voluntário, não obrigatório. Você experimentará fisicamente sensações porque escolhe experimentá-las, não porque é obrigado a fazê-lo para se sentir feliz ou justificara tristeza. 

Essa única e simples mudança — tentar encontrar a paz interior poderia, se fosse feita por todas as pessoas, acabar com as guerras, com os conflitos e com as injustiças, e proporcionar ao mundo uma paz duradoura. 

Não há nenhuma outra fórmula necessária, ou possível. A paz do mundo é uma coisa pessoal

O que é preciso não é de uma mudança de situação, mas de consciência.

NEALE: 

Como podemos encontrar a paz interior quando estamos famintos? Ter serenidade quando estamos sedentos? Permanecer calmos quando estamos molhados, com frio e sem abrigo? Ou evitar a raiva quando os nossos entes queridos morrem sem um motivo? O Senhor fala poeticamente, mas a poesia é prática? Ela tem algo a dizer para a mãe na Etiópia que vê seu filho esquelético morrer por falta de um pedaço de pão? Para o homem na América Central que sente uma bala atravessar o seu corpo porque ele tentou evitar que um exército invadisse o seu povoado? E o que a sua poesia tem a dizer para a mulher no Brooklyn estuprada oito vezes por uma gangue? Ou para a família de seis membros na Irlanda morta por uma bomba terrorista colocada em uma igreja em uma manhã de domingo?



Isso é difícil de ouvir, mas Eu lhe digo que há perfeição em tudo. Tente vê-la. Essa é a mudança de consciência da qual falo.

Não precisar de coisa alguma. Desejar tudo [o que é e se tem]. Escolher o que se apresenta.

Tenha os seus sentimentos. Chore as suas lágrimas. Dê as suas risadas. Honre a sua verdade. Contudo, quando toda a emoção se for, fique calmo e saiba que Eu sou Deus.

Em outras palavras, no meio da maior tragédia, veja a glória do processo. Mesmo quando você morrer com uma bala atravessando o seu peito, ou for estuprada por uma gangue.

Agora isso parece uma coisa impossível de fazer. Contudo, quando você passar a ter a consciência de Deus, poderá fazê-la.

É claro que não tem de fazê-lo. Isso depende de como deseja experimentar o momento.

Em um momento de grande tragédia o desafio é sempre aquietar a mente e penetrar fundo na alma.

Você o faz automaticamente quando não tem controle sobre isso

Já conversou com uma pessoa que acidentalmente atirou um carro de uma ponte? Ou se viu diante de um revólver? Ou quase se afogou? Frequentemente essas pessoas dizem que o tempo passou mais devagar, foram dominadas por uma estranha calma e não sentiram medo.

Não temerás mal algum porque Eu estou contigo.” É isso que a sua poesia tem a dizer para a pessoa que enfrenta a tragédia. Em seu momento de maior escuridão Eu serei a sua luz. Em seu momento mais triste. Eu serei o seu consolo. Em seu momento mais difícil. Eu serei a sua força. Portanto, tenham fé! Porque Eu sou o seu pastor; nada lhe faltará. Eu o farei deitar em pastos verdejantes; Eu o guiarei mansamente a águas tranquilas. Eu refrigerarei a sua alma e o guiarei nas veredas da justiça por amor a Meu nome. E sim, ainda que você ande pelo vale da Sombra da Morte, não temerá mal algum, porque Eu estou contigo. Minha vara e meu cajado o consolarão. Eu preparo uma mesa perante você na presença dos seus inimigos. Ungirei com óleo a sua cabeça. Seu cálice transbordará. Certamente que a bondade e a misericórdia o seguirão todos os dias da sua vida, e você habitará em Minha casa — e em Meu coração — eternamente.

REFERÊNCIA

WALSCH, Neale Donald. Conversando com Deus; novo diálogo sobre os problemas que afligem a humanidade. 6 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999. Livro 2. p.178-181.

COMENTÁRIO de Kathy Marcondes:

O livro de onde sai esse extrato foi best seller por meses e meses na década de 90 quando foi lançado. O sucesso veio da ousadia de fazer de Deus uma personagem bastante compreensível que se expressava numa linguagem acessível e respondia as perguntas do autor (que seriam rigorosamente as mesmas que nós faríamos se pudéssemos encontrar e conversar com Deus num bate-papo) de forma interessante, além de divertida. Muito divertida. Esse trecho acima tem a beleza de integrar trechos do endendimento cristão, mas, sobretudo, de trazer a perspectiva de entendimento de que as questões macrosociais decorrem das internas, das pessoais. A evolução pessoal de um ser humano é aqui colocado como uma dimensão política de fazer escolhas mais responsáveis para a civilização e para si mesma. Leitura recomendadíssima!