Aprender – uma poesia sobre a fala/escrita que liberta

APRENDER

por Neuzamaria Kerner

É tão difícil lidar com gente!

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Bem menos

é a lida solitária

no acalanto das palavras

– lentes da poesia.

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Ensina-me, ó vida,

a árida trilha da montanha

onde fica a letra bruta e vazia

para o exercício do polimento

e o preenchimento do verso diamante.

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Gentes tão desiguais

e tão ímpares como palavras soltas.

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Ensina-me, ó vida,

a tara precisa na balança

da gente que me amplia

da palavra que me completa.

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Ensina-me a colheita

da palavra adivinhada…

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Matura-me no trato

com gentes e palavras

que fulgem nas combinações misteriosas

ancorando tudo firmemente

no espaço constelado

da estrofe.

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REFERÊNCIA: 

KERNER, Neuzamaria. O livro-arbítrio das ervas: dentro e fora do jardim. Ilhéus: Editus, 2014. p.71.

COMENTÁRIO de Kathy Marcondes

Na poesia “Aprender” a gente pode apreender que há escapes para não-saber-dizer o que deve ser dito: escreva! O “eu” que escreve pede ajuda: ensina-me… A quem ele se dirige: a Deus? a Vida? a um professor? um mestre? um terapeuta? um pedaço de si mesmo?

Não saberemos a resposta… mas sabemos que as palavras das perguntas colocadas… as demais palavras que adjetivam e classificam a experiência desse sujeito que quer aprender… demonstram inequivocamente que há um bom escritor ao dizer palavras que fazem total sentido para sua autossuperação! As palavras vão abrindo, descortinando, afirmando a autoria…

A Escrita e a Leitura terapêuticas tem uma ENORME HISTÓRIA de utilização dentro da psicologia e das tentativas de auto conhecimento e de desenvolvimento pessoal. Uma poesia como esta pode tanto ser um convite para o leitor experimentar escrever e achar essas palavras que curam, quanto pode ser uma testemunha – ela mesma – de uma poesia que já curou!