Pensando como tratar da insônia

por Kathy Marcondes

Nossos velhos e velhas sábias sempre nos disseram algo assim:

NADA COMO UMA BOA NOITE DE SONO!

Definitivamente não há quem não reconheça os benefícios de uma noite bem dormida em contraposição à sensação desagradável de não dormir bem por uma noite… que dirá por dias…

O sono é o momento reparador por excelência das condições psicológicas de uma pessoa humana. A fisiologia dos tecidos e orgãos também trabalham de forma muito específica durante nossas horas de sono e, por isso, dormir é uma das poucas unanimidades! TODOS os cientistas, médicos, psicólogos, fisioterapeutas e demais profissões da Área da Saúde atestam que dormir bem – mesmo que na singularidade das diferentes necessidades de cada pessoa e idade – é fundamental para a saúde e só traz benefícios.

Se é assim tão bom, e sabido por tantos, como pode ser ainda tão comum a insônia e ser tão difícil combatê-la?

Há uma infinidade de PRODUTOS dedicados ao dormir melhor. E muitos de nós preferem acreditar que será fácil, passivamente, apenas “comprando o produto tal” nos livrar das noites mal dormidas. Mas… se fosse fácil assim… nossa sociedade já teria nos livrado desse problema apenas nos vendendo coisas. Essas “coisas” eliminariam os concorrentes ineficientes. Parece-nos que, ao contrário, quanto mais coisas vemos nas farmácias para nos fazer “dormir bem” ou nos shoppings nos garantindo “dormir uma noite excelente na textura perfeita”, mais e mais pessoas deixam de conseguir o resultado natural e simples: ter sono de noite. Não há essa uma “coisa” milagrosa que resolve sem consequências negativas, o problema de ter uma boa noite de sono!

Sim, conhecemos os vilões: celular, falta ou exagero dos exercícios físicos, falta ou exagero na alimentação, falta ou exagero nas “alegrias de viver”, uso incorreto de álcool e outras drogas, excesso de carga de trabalho, emoções excessivas como o medo e/ou ansiedade do que temos de fazer amanhã e depois e depois e depois e depois. Mas, não, não é fácil contornar a civilização atual e seus vilões. Sermos simplesmente nós mesmos (e termos nosso sono na nossa hora de dormir) passou a ser uma tarefa, uma reconquista, um caminho de sabedoria sobre quem somos, sobre o que os outros querem de nós, sobre o que eu quero para mim mesmo.

Todo o processo civilizatório está baseado nessa associação simples: necessidade gera produto que gera venda/entrega. Porém, quando chegamos no nosso atual estágio de desenvolvimento – onde a velocidade, a produtividade e a competição já ultrapassaram as possibilidades de que nos envolvamos socialmente no trabalho ativo e mantenhamos uma vida pessoal simples, saudável e calma – é muito fácil que o mercado nos ofereça opções para dormir. A aceleração absurda da sociedade tecnológica e globalizada entranhou-se nas mais remotas cidades do interior… quanto mais nos nossos centros urbanos!

Há uma outra epidemia entre nós nestes tempos modernos: uma epidemia de pressa/atraso e desconforto por isso. Claro que, por isso, de noite, dormir é quase que uma conquista: tomara que eu consiga“!

Assim, dormir tornou-se uma necessidade (para além de sua naturalidade diária). E tendo se torando uma necessidade, torna-se alvo fácil da tentativa de mercantilização de métodos e estratégias para satisfazer essa necessidade. Muitos desses métodos e técnicas são absolutamente válidos. A medicação neurológica, psiquiátrica, ortomolecular, fitoterápica, homeopática, heiki, yoga, pilates, meditação se tornam, nesta perspectiva, produtos mercadológicos. Até aí Ok. Mas, como tudo na vida, exige-nos ponderação. Cada um desses caminhos precisa de uma ACURADA discriminação do que são, para que servem, quem se beneficia com isso e se nós, especificamente, nos beneficiaríamos deles MESMO.

“Qual desses métodos/produtos/caminhos são os realmente necessários e eficientes para mim?”

Um “caminho” precisa de nossa participação para ser “nosso caminho” e não apenas de nosso autoengano e de um produto que me foi vendido à toa. Todas as alternativas apontadas anteriormente podem nos ajudar no tratamento da INSÔNIA se nos conhecemos bem e se, por isso, procuramos o PROFISSIONAL correto, de que realmente precisamos e em quem confiamos, pois não nos VENDERÁ um produto de mercado para satisfazer nossa necessidade, sem que o profissional se comprometa com o que professa e sem que nós nos comprometamos com todo um CAMINHO DE CURA de nossa própria e particular insônia.

Há vários níveis de comprometimento da saúde de nosso sono. Dependendo do grau de nossos sintomas é verdade que precisamos de um médico responsável para prescrever os fármacos adequados a nossa insônia, acompanhar o seu uso e os suspender eventualmente (pela supressão dos sintomas ou pelos efeitos colaterais do tratamento da psicopatologia que justifica o uso da medicação). Logo, tomar o “Rivotril da mãe” ou pegar “o Apraz do vovô” está fora de considerações inteligentes! Dificilmente uma pessoa toleraria feliz seu valioso carro ser lavado com ácido ou que se despejasse soda caústica na terra de seus vasos de plantas… porque supõem que essas práticas não sejam adequadas ou saudáveis. Nem sempre entendemos os efeitos das medicações que outras pessoas ingerem, mas admitimos ingeri-las como se nosso corpo pudesse ou devesse suportar bem substâncias estranhas ao seu funcionamento normal e saudável para dormir. A frase simples é inacreditavelmente desrespeitada quando se trata de insônia: “não devemos tomar os remédios alheios”. Os médicos os prescreveram para certas circunstâncias e para certas pessoas!!! Medicação neurológica e psiquiátrica é coisa muito séria! Não é um produto ao alcance do insone para resolver sua necessidade de dormir naquela noite.

A questão é complexa. Compreendemos. Viver dá trabalho. Viver bem, hoje em dia, dá mais trabalho ainda. O trabalho de refletir e ponderar bem sobre nossos hábitos, desejos, necessidades e compras de produtos. Viva a sustentabilidade!! Em todos os sentidos!!

Aproveito para fazer a “propaganda” de um produto muito específico, de baixíssimos efeitos colaterais indesejados, e de alta exigência para com o seu consumidor e que também pode, em alguns dados casos, ajudar no tratamento individualizado da insônia (a começar por pensar bem antes de procurar um bom médico se for necessário fazer uso de medicação para dormir, em casos extremos e graves): a psicoterapia.

Se a PSICOTERAPIA nos é indicada (porque desejamos ou porque algum profissional de saúde nos indicou) podermos chegar ao auto conhecimento e a auto análise criteriosa de nossa vida, nos levando a considerar mais profundamente nosso sintoma “INSÔNIA”. É importante sabermos (1) as raízes dos hábitos diários (diurnos e noturnos) a serem modificados em prol de nosso bom sono e, ainda, ter claro sobre o (2) novo sentido de uma vida-acordada que precisamos nos dar para, então, conseguirmos vencer a insônia com ou sem a ajuda medicamentosa.

Pois é… o buraco da “insônia” foi ficando mais fundo!! Ninguém nasceu insone, não é? Nos tornamos insones!! Como?? Por que?? Para que?? Até quando?? São as perguntas preferidas dos psicoterapeutas… 😃 😉

Há muitas outras formas terapêuticas que podem nos ajudar, como a correta prescrição de fitoterápicos, por exemplo. Isso pode nos assegurar um tempinho de efeitos positivos sobre o sono. Casos mais leves de insônia podem ser supridos por este recurso durante o período necessário para que se dê nosso ajuste comportamental mais profundo. De acordo com as convicções pessoais de cada um, buscar uma das PICS, buscar as plantas e chás, os florais, as pedras, as danças circulares, as energias, as cores… enfim… buscar qualquer ajuda significativa para nossa pessoa (e incluir nisso a nossa fé: nossa perspectiva de mundo e de ser humano neste mundo) será:

  • menos mercadológico,
  • não vai ajudar-de-imediato-agora-e-para-sempre,
  • vai exigir compromisso, reflexão, exercícios e alegria de se ver CUIDANDO DO PRÓPRIO SONO.

Entretanto, justo quando nos cuidamos como um TODO é que aparecem as melhores repercussões sobre o nosso SONO, que duram por mais ou por todo o nosso tempo. É por isso que a terapêutica eficaz contra a insônia tem de ser modelada caso a caso, sempre! Porque a esse sintoma “insônia” existem, sempre, muitos fatores associados, conflituosos entre si e desarmonizados com as melhores ferramentas psicológicas que temos. Cada uma tem a sua própria insônia e seus próprios empecilhos e recursos para superá-la.

O sinal de que cuidamos da nossa vida  (da que temos e da que queremos ter) e de que escolhemos nos relacionar melhor e mais conscientemente com as PRESSÕES SOCIAIS POR EFICIÊNCIA, PRODUTIVIDADE E GANHO costumam aparecer como uma benção noturna disfarçada de sono: descansamos a mente para acessar nosso EU SUPERIOR, íntimo, quieto e pacífico.

Dá mais trabalho procurar as formas ATIVAS de cuidado com nosso sono… certamente. Mas, sem dúvida, nos manterá acordados e alertas de dia, dormindo na “santa paz de Deus” à noite. 😇

REFERÊNCIA:

MARCONDES, Kathy Amorim. Pensando como tratar da insônia. Disponível em: https://kathymarcondes.com.br/psi/problema/insonia/pensando-como-tratar-a-insonia/. Acesso em: …