O medo é metade +1 do problema

O MEDO ATINGIU 50.000

por Anthony de Mello

A Peste estava a caminho de Damasco e passou por uma caravana no deserto.

— Aonde vai com tanta pressa? — Perguntou o Chefe.

— A Damasco. Pretendo tirar 1000 vidas.

Voltando de Damasco, a Peste passou mais uma vez pela caravana. Disse o Chefe:

— Você tirou 50.000 vidas, não apenas mil.

— De jeito nenhum! — Retrucou a Peste. Eu tirei mil. Foi o Medo que tirou o resto.

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REFERÊNCIA:

MELLO, Anthony de. O enigma do iluminado. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000. v. 2, p. 122.

COMENTÁRIO de Kathy Marcondes:

O Padre Anthony de Mello usa aqui uma de suas formas favoritas de “pregação”: as historinhas que ele recolhia dos ensinamentos cristãos e das vivências de comunidades não-cristãs onde ia pregar. Coincidindo o ensinamento esse grande autor colecionava as histórias e as usava. Podemos atribuir a ele um movimento claramente “ecumênico”… um ecumenismo vivido na sua pele, na sua existência humana. Entre as suas histórias prediletas figura a historieta acima: a Peste revela que o Medo é um personagem infernal. O medo representa a emoção paralisante: aquela que leva à falência todos os mecanismos de enfrentamento corajoso da existência. Frente ao Medo falem a coragem, a esperança e a tranquilidade de que exista um sentido para a existência (quer esse sentido seja o desejo ou a sabedoria divina, quer seja o de aprender e suportar as adversidades da vida). De qualquer forma as adversidades “matam” menos porque podem ser enfrentadas com fé e destemor. O Medo que nos tira o destemor e nos vulnerabiliza abre o caminho para a falência da vida e seus mecanismos de resiliência. Antes de atiçar o medo de alguém ou de incrementar o próprio medo vale considerar sua ardilosidade perigosa. Escolha a Coragem. Vale mais a pena (de viver, sem certezas absolutas, pois a Vida trata-se de uma aventura e não de um jogo de dominó previsível e sem intercorrências ou graças)!