Um judeu não vai a sinagoga na pandemia e traz a sinagoga até nós

Nenhuma religião é uma ilha isolada

por Jairo Hidal

Nesta peculiar comemoração de Rosh Hashaná (pela primeira vez não fui a sinagoga e fiquei assistindo o serviço religioso pela “telinha” e sem a companhia da minha comunidade, que em hebraico se chama Kehila) fiquei lendo o novo livro de orações (chama-se Machzor) da Sinagoga que eu pertenço e onde meu Bisavô, avós e pais rezavam e encontrei uma interpretação do poema “Por quem os Sinos Batem? feita pelo GIGANTESCO Abraham Joshua Heschel, que está transcrita abaixo.

O poema original serviu de titulo para o lindo livro de Ernest Hemigway “For whom the bell tolls?” sobre a Guerra Civil Espanhola.

Heschel nasceu na Polônia, fez sua formação na Alemanha e quase por milagre escapou do Holocausto (a maior parte de sua família morreu nos campos de extermínio) emigrou para os Estados Unidos e lá se tornou uma figura legendária dirigindo um dos mais importantes Seminários de formação rabínica (vários dos rabinos que contribuíram em minha formação são “descendentes” de Heschel).

Ele teve participação ativa no movimento pelos Direitos Civis nos Estados Unidos e frase abaixo explica o que ocorria naquele momento:

For many of us the march from

Selma to Montgomery was about

protest and prayer. Legs are not lips

and walking is not kneeling. And yet

our legs uttered songs. Even without

words, our march was worship. I felt

my legs were praying.

Versão de Abraham Joshua Heschel:

Esta frase está no Mahzor de Rosh Hashaná da Sinagoga Beth-El

“Nenhuma religião é uma ilha. Nenhuma tem o monopólio da santidade. Somos companheiros de todos que reverenciam a Deus. Rejubilamo-nos quando o nome divino é ouvido. Nenhuma religião é uma ilha. Compartilhamos o companheirismo da Humanidade e a capacidade compaixão. O espírito de Deus vive em todos, judeus e gentios, homens ou mulheres, em consonância com seus atos.

Não temos todos um só Criador?

Não somos todos filhos de Deus?

Que não sejamos guiados pela ignorância e pelo desprezo.

Que a santidade de nossa vida ilumine o nosso Caminho”.

Versão de Jairo:

“Nenhuma religião é uma ilha, isolada em si mesma; todas fazem parte da Criação Divina, são parte de um todo. Quando a humanidade entra em conflito, por achar que a sua versão da verdade divina é a mais correta, todos ficamos diminuídos. Nenhuma tem o monopólio da santidade.

A morte de qualquer homem nos diminui, pois somos todos “Filhos do mesmo Criador”.

E por isso não perguntes por quem os outros rezam; eles rezam por ti.”

REFERÊNCIA:

HIDAL, Jairo. Nenhuma religião é um ilha isolada. Disponível em: https://mostlykind.com/nenhuma-religiao-e-uma-ilha-isolada/. Acesso em 15 nov. 2021.

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COMENTÁRIO de kathy Marcondes:

O texto do Jairo é um convite a abrir outros livros do Rabino Heschel, mas dessa vez, com consciência de que esse personagem histórico, que lutou pelos Direitos Civis nos EUA ao lado de Martin Luther King, é atualíssimo. A tradução interpretativa que Jairo dá a famosa citação nos leva a perceber claramente como um grande autor continua repercutindo muito depois de seu próprio tempo. Talvez isso aconteça pela urgência de refrescarmos nossa sociedade com valores e princípios que nos levem adiante: só a tolerância e o cuidado com nossa casa comum, a Terra, poderão nos conceder esse privilégio.