O caminho espiritual verdadeiro é o do coração

CAMINHO ESPIRITUAL

Mas agora que tanta coisa está mudando, não será a nossa vez de nos transformarmos também?

Raine Maria Rilke

Se um número suficiente de pessoas passar por um processo de profunda transformação interna, talvez seja possível alcançar um nível de evolução da consciência na qual possamos merecer o nome que demos à nossa espécie: homo sapiens

Stanislav Grof

Deus não “tem” religião. Não “está” em templos, igrejas, mesquitas ou sinagogas – exceto as do coração. Deus existe onde o homem o deixa entrar. O templo não está do lado de fora: somos o santuário.

A transformação global que tanto precisamos somente acontecerá quando deixarmos de procurar Deus fora de nós mesmos. Deus não vive lá nas alturas, esperando que cheguemos as portas do céu para que Ele se revele.

Ele repousa dentro de cada experiência que temos e assim deve ser encontrado, verdadeiramente. Deus está no centro de cada ação, cada pensamento, cada sentimento e cada respiração. Um caminho espiritual de abertura de consciência, portanto, não visa mudar quem somos, mas lembrar-nos exatamente disso: quem somos.

Podemos esquecer quem somos, podemos encobrir quem somos, mas não podemos destruir isso. Nossa natureza não é apagável. O caminho espiritual de cada ser é aquele que o leva a essa sua verdade e aí está a sua validade.

Hoje precisamos de uma espiritualidade verdadeiramente holística. Necessitamos não somente de um arco-íris do amor universal que interceda pela paz, mas de um amor prático.

Precisamos de um amor que trate com carinho o veículo físico de nossa alma, porque um corpo saudável tem maior capacidade de realizar o serviço de Deus.

Cada um de nós é chamado a despertar para a nossa verdadeira natureza, a mergulhar dentro de nós mesmos e encontrar Deus em um lugar no qual nos esquecemos frequentemente de olhar: em nosso coração.

Deus não tem outras mãos a não ser as suas, para realizar sua vontade no mundo. Confie em Deus e amarre os camelos.” Ditado Árabe

Necessitamos de um amor que não tenha medo de lidar com o dinheiro, uma vez que a riqueza global precisa urgentemente ser redistribuída.

Precisamos de um amor que pense sempre à frente e que comece a criar, agora, aquilo que as gerações futuras necessitarão.

Se não houver mudança em nossa consciência hoje, não haverá mudança em nossa experiência amanhã.”

Joel Goldsmith

Em outras palavras, precisamos do amor em ação.

E também não é o bastante sentar-se silenciosamente no vazio da Verdade Final: necessitamos de uma verdade que atenda a realidade do dia-a-dia. De uma verdade que fale a nossos sentimentos mais profundos, que expresse uma gama completa de emoções e que tenha coragem de excluir as falsas aparências, a fim de revelar a ternura de um coração sem preconceitos.

… só é possível conhecer a verdade, quando ela se fez em mim.” Soren Kierkegaard

Precisamos da verdade que construa uma ponte para aproximar a imperfeição de nossa condição de seres humanos à perfeição da essência de Deus.

No livro sagrado hindu, o Bhagavad Gita, o Mestre Krishna dá orientação espiritual ao príncipe Arjuna e diz:

É melhor realizarmos a vossa própria tarefa, ainda que imperfeita, do que assumir as tarefas de outra pessoa, ainda que prósperas.”

Ao nos dedicarmos algum caminho espiritual o que importa é simples: precisamos ter certeza que nosso caminho está conectado ao nosso coração.

Muitos outros pontos de vista nos são oferecidos no mercado espiritual do mundo moderno. As grandes tradições espirituais oferecem histórias de iluminação, bem aventuranças, conhecimento, êxtase divino e as mais elevadas possibilidades do espírito humano. Embora promessa de atingir tais estados possa tornar-se realidade, e embora tais estados realmente representem os ensinamentos, num certo sentido, eles são também, hoje, técnicas promocionais do comércio espiritual.

A vida espiritual não é um processo de busca ou ganho de alguma condição extraordinária ou poderes especiais. Se não formos cuidadosos, podemos facilmente encontrar as grandes falhas da sociedade moderna — sua ambição, materialismo e isolamento individual — repetidos em nossa vida espiritual.

“O percurso correto do caminho espiritual é um processo muito sutil e não alguma coisa a que possamos atirar-nos ingenuamente. Existem numerosos desvios que levam a uma distorção egocentrada da espiritualidade; podemos iludir-nos imaginando que estamos nos desenvolvendo espiritualmente quando, na verdade, não fazemos senão fortalecer nosso egocentrismo por meio de técnicas espirituais. A essa distorção básica pode dar-se o nome de materialismo espiritual. […] Os problemas básicos do materialismo espiritual são comuns a todas as disciplinas espirituais. O enfoque budista começa com a nossa confusão e o nosso sofrimento, e atua no sentido de destrinchar sua origem. O enfoque teísta começa com a riqueza de Deus e atua no sentido de elevar a consciência de modo que ela experimente a presença de Deus. Todavia, dado que os obstáculos ao relacionamento com Deus são as nossas confusões e negatividades, o enfoque teísta também precisa lidar com elas. O orgulho espiritual, por exemplo, causa tantos problemas nas disciplinas teístas quanto no Budismo.”

Chögyam Trungpa

Conhecimento teológico e manejo de técnicas não são, entretanto, os objetivos da vida espiritual.

O despertar espiritual que não desperta o adormecido para o amor, desperta-o em vão.
Ao iniciar uma jornada espiritual genuína, precisamos ter certeza de que nosso caminho está conectado ao nosso amor mais profundo.

Dom Juan em seus ensinamentos a Carlos Castañeda, assim o expressou:

Olhe Cada caminho de perto, deliberadamente. Experimente o tantas vezes quantas julgar necessário. Então, faça assim mesmo, e só si mesmo, uma pergunta: esse caminho tem um coração? Se tiver, é um caminho bom. Se não tiver, é um caminho inútil”.

Ninguém pode definir para nós exatamente qual deveria ser o nosso caminho. Pelo contrário, devemos deixar que o mistério e a beleza dessa pergunta ressoem dentro do nosso ser. Então, em algum lugar dentro de nós… surgirá uma resposta e a compreensão aflorará.

Na vida moderna, estamos tão ocupados com os nossos pensamentos e afazeres cotidianos que esquecemos essa arte essencial de fazer uma PAUSA e conversar com o nosso coração. Quando nos perguntamos sobre o nosso caminho atual, precisamos observar os valores reais pelos quais demonstramos escolher viver.

Onde empregamos o nosso tempo, a nossa força, a nossa criatividade, o nosso amor?

Precisamos olhar nossas vidas sem sentimentalismo, exageros ou idealismo.

Aquilo que estamos escolhendo reflete aquilo que valorizamos mais profundamente?

A partir do Amor, nosso caminho pode levar-nos
a aprender a usar os nossos dons para cura e serviço, para criar paz a nossa volta, para honrar o sagrado da Vida, para abençoar tudo aquilo que encontramos
e para desejar o bem de todos os seres.

Não servimos a um mestre ou a uma hierarquia, servimos ao Planeta em todas as suas dimensões.

Todos e qualquer ensinamento espiritual nos é inútil se não conseguirmos amar.

Mesmo os estados mais exaltados e as mais excepcionais conquistas espirituais não têm a menor importância se não conseguirmos ser felizes nos caminhos mais básicos e comuns, e não conseguirmos tocar, com o coração, nossos semelhantes e a vida que nos foi concedida.

REFERÊNCIA:
CAMINHO espiritual. Material de Estudo do Grupo Arco-Íris: Vitória, 29 nov. 2021