Finalmente – aprender a honrar uma Vontade

FINALMENTE

por Rachel Naomi Remen

Dois dias antes de minha mãe completar oitenta anos, perguntei a ela como desejava passar o dia. “Quero subir ao topo da Estátua da Liberdade”, ela respondeu. “Não há um elevador?” Minha mãe olhou para mim. “Quero ir pelas escadas”, disse.

Ela morara em Nova York havia quase oitenta anos, mas nunca tivera essa experiência. Lembrava-se claramente a primeira vez em que vira a “Liberdade” ao entrar no porto de Nova York no navio vindo da Rússia. Tinha cinco anos. Agora, evidentemente, ela estava com uma grave doença cardíaca, e havia 342 degraus a subir. Sem me desencorajar, percebi que poderíamos fazer aquilo subindo três ou quatro degraus por vez, parando para descansar. Levaríamos sua nitroglicerina e tiraríamos o dia para fazer aquilo. Quando lhe propus isso, ela adorou.

Durante a subida de seis horas, tive muitos receios. Como eu fora me meter naquela maluquice, subir a Estátua da Liberdade com uma mulher de oitenta anos sofrendo gravemente do coração? Mas era a vontade dela, por isso continuamos, alguns degraus por vez. Ela podia ter angina, mas também tinha uma vontade férrea. Acho que metade de Nova York passou por nós naquelas escadas.

Por fim, inacreditavelmente, chegamos a seis ou sete degraus do topo. Ali, em pé, parando pelo que deve ter sido a tricentésima vez, minha mãe olhou os últimos degraus que a separavam de seu objetivo com ressentimento. “Puxa vida“, disse, “não podíamos ter subido estes primeiro?

Pensando agora nessa história, lembro-me de quantas vezes também eu me ressenti da escalada, da quantidade de vida necessária para adquirir a preciosa compreensão de como viver bem. E de como é importante, na luta para libertar-se do passado, não sermos limitados pelo estilo ou pelas expectativas em relação a nós mesmos ou não nos preocuparmos com o que os outros possam pensar. Estarmos dispostos a fazer as coisas realmente importantes do modo como bem entendemos, mesmo que sejam três, degraus por vez.

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REFERÊNCIA:

REMEN, Rachel Naomi. Finalmente. In: REMEN, Rachel Naomi. Histórias que curam: conversas sábias ao pé do fogão. São Paulo: Ágora, 1998. p. 158-159.

Comentário por Kathy Marcondes: