Aforismo do Tao Te King sobre a força da brandura

AFORISMO DO TAO TE KING

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O homem ao nascer é tenro e brando

Ao morrer é rígido e duro.

A erva, a madeira e os dez mil seres, ao brotarem

São como a suave penugem do ventre do pássaro.

Ao morrer, são secos e murchos.

Por isso, os rígidos e duros são companheiros da morte.

Os tenros e brandos são companheiros da vida.

Sendo assim

As armas duras não vencem

As árvores duras são comuns.

Por isso, rígidos e duros moram embaixo

Tenros e brandos situam-se em cima.

 

 

 

 

REFERÊNCIA:

TSE, Lao. Tao Te Ching: O livro do caminho e da virtude. Tradução Wu Jyh Cherng. Rio de Janeiro: Mauad X, 2011. p. 94.

COMENTÁRIO de Kathy Marcondes:

O “Tao Te Ching” pode ser considerado uma escritura sagrada, como a Bíblia é para os cristãos ou o Alcorão para os mulçumanos. Existem centenas de diferentes traduções desse “Livro do Caminho”, “Livro Clássico para o Caminho da Integridade” ou “Livro das Virtudes”, sem dúvida o mais importante exemplo da literatura chinesa conhecido pelo Ocidente. Atribui-se, com frequência, ao mestre Lao Tsé a sua autoria. Sendo a base do Taoísmo, se supõe que tenha sido escrito entre 460 a.C. e 380 a.C., mas como a atribuição de sua autoria é a de um personagem histórico muitíssimo mais antigo que essas datas… sempre nos perdemos na tentativa de precisar muito as coisas históricas e religiosas do Oriente. Neste texto clássico temos em poucos aforismos a apresentação da base da filosofia taoísta. O Tao pode ser entendido como um “caminho” intuitivo de onde se origina a dualidade das coisas sabidas (o Yin e o Yang). Não podendo ser adequadamente “descrito”, esse caminho pode ser apreendido na literatura e suas proposições metalinguísticas.

Neste extrato das delicadas e poéticas exortações do Tao, podemos observar a defesa do Caminho do Meio, da brandura e da flexibilidade. Sem confundir força com agressividade, o caminho virtuoso é aqui apresentado como o caminho da vida, do tenro, do adequado e da brandura. Nossa sociedade excessivamente marcada pela competitividade nos deixou bastante empobrecidos de posicionamentos com o grau de nobreza desse discernimento do Tao. Quem de nós conseguiria, hoje, exortar a um filho ou amigo a ser “brando” numa contenda, numa disputa, para bater uma meta ou para alcançar um objetivo? Contudo, avaliemos com sinceridade. Nossa atitude belicosa demais em relação a ter de ter “conquistas” muito frequentemente nos torna tensos. Tensos nos tornamos super-vigilantes, defensivos… nos defendemos da sombra… da coisa… da intenção daquilo que virá. Defensivos em exagero nos tornamos inseguros, mal humorados, despropositados e, ao alcançar as “conquistas”, quantas delas têm de fato valor 1 minuto depois de terem sido atingidas?

A brandura não significa falta de força ou determinação. Mas exige uma mente lúcida e as emoções manejadas com sinceridade e abertura para nos corrigir, nos incentivar e nos motivar a sermos, sobretudo, quem somos!! Sem comparativos! Sem superlativos! Sem culpas! Sem arrependimentos! Sem agressões. Beleza pura.

Ressoa no taoísmo uma máxima de brandura mais conhecida de nossos ouvidos cristãos em: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (Mateus 5:5). Penso que se não houverem mais e mais mansos… não temos certeza se haverá alguma Terra para ser herdada. Ode aos mansos! Aos brandos! Aos de muita coragem em pleno início do século XXI, tão decisivo!